sábado, 23 de janeiro de 2010

EUA "ocupa" o Haiti novamente ou é só ajuda humanitária?


No dia 12 de janeiro, um terremoto de magnitude 7 devastou o país mais pobre das Américas e colocou o mundo todo em alerta. Nos dois primeiros dias após o tremor, as doações anunciadas ao Haiti correspondiam a mais de um terço de seu orçamento anual, e muito mais foi dado e prometido depois. Além de dinheiro, muitos países enviaram equipes de resgate, mantimentos e soldados.


O Brasil, que antes do terremoto já liderava o braço militar da Força da ONU para Estabilização do Haiti (Minustah, na sigla em francês), mantém 1.300 militares no país. O governo também enviou aviões com mantimentos e equipes de bombeiros. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, pediu ao Congresso autorização para dobrar o efetivo brasileiro no país.


Mas algo de pôdre começou a pairar no ar, além do mal cheiro das ruas de Porto Príncipe, na terça-feira.
Centenas de haitianos presenciaram 7 dias após a tragédia, entre reações de resignação ou revolta, à impressionante aterrissagem de vários helicópteros das tropas americanas no Palácio Presidencial, num ato considerado por muitos como uma perda da soberania.




"Isso é uma ocupação. O Palácio do país representa nosso poder, é o nosso rosto, nosso orgulho", critica Feodor Desanges.

"Não os vi distribuindo comida no centro da cidade, onde as pessoas precisam urgentemente de água, alimentos e medicamentos. Isso mais parece uma ocupação", protesta Wilson Guillaume, estudante haitiano de 25 anos.

Uma hora depois de chegar, um grande grupo de soldados partiu na direção do hospital geral da capital, para iniciar as operações de segurança.


Ao passar, foram recebidos por uma mistura de gritos de "bem-vindos" e "obrigado" por "voltem pra casa" e "não nos ocupem".

Para Herold Line, professor haitiano, o problema não é os Estados Unidos ocuparem o palácio presidencial e sim se começarem a estender a ocupação pela cidade.

"O que importa é que nos ajudem a reconstruir o Estado e as instituições públicas, que são inexistentes", explica.

A história dos EUA com o Haiti já é antiga!

O Pentágono jogou com todo o simbolismo firmemente plantado no imaginário popular dos haitianos.
Em 15 de outubro de 1994, no mesmo local, outros Black Hawk idênticos trouxeram de volta, como a um messias, o ex-presidente Jean Bertrand Aristide para recolocá-lo na cadeira presidencial (tutelado pelos EUA), depois de ele ter sido afastado por militares da velha guarda militar duvalierista em um golpe de Estado, ao qual Washington tampouco esteve alheio. Aristide, na época, era quase uma divindade.

O que aconteceu depois com seu governo é outro assunto.

A chegada dos soldados procurou ser transmitida como o desembarque dos mocinhos, que vieram para salvar o Haiti. No fundo, o que eles fazem no Haiti é ocupar, assumir, controlar. O histórico de intervenção norte-americana no país gera desconfianças sobre seus interesses na tal "ajuda humanitária" e até quando pretendem ficar no país.







Como as forças americanas não são submetidas ao comando das Nações Unidas, criou-se um desgaste entre as forças americanas e militares dos diversos países que atuam no Haiti - que acusam os EUA de novamente "ocuparem" o Haiti e tumultuarem operações complexas, como o resgate de vítimas.

No mesmo dia do desmbarque cinematográfico, durante a megaoperação de resgate de 80 vítimas soterradas sob os escombros do Hotel Montana, que envolveu quase 150 homens de nove países, o comandante-geral do Exército chileno, general Ricardo Toro, desabafou com a equipe brasileira. "Os americanos não dão mais palpites aqui e acabou-se a confusão. Quem manda aqui sou eu", disse o chileno.

Os EUA afirmam que a principal missão dos soldados é humanitária, para participar e ajudar a proteger a enorme operação internacional de ajuda às vítimas do terremoto. No entanto, comandantes americanos também têm dito que estão preparados para impor a segurança na capital, caso necessário.

A irritação disfarçada da ONU


Oficialmente, panos quentes. Nos bastidores, uma guerra. A operação americana no Haiti tem causado desconforto ONU e a entidade é agora obrigada a declarar que o país ainda é "um Estado soberano". Quase 70% do orçamento da ONU para o Haiti vêm de Washington e é a bandeira americana que está hasteada no aeroporto de Porto Príncipe.

Um dia antes, o ministro da Cooperação do presidente Nicolas Sarkozy, Alain Joyandet, protestou na ONU e exigiu que os EUA esclarecessem seu papel no Haiti. "Precisamos ajudar o Haiti, não ocupá-lo", disse. A forma de trabalhar dos americanos irritou, já que estão atuando como se estivessem em um local em guerra.

A ação mais criticada foi a decisão americana de lançar alimentos de helicópteros em algumas regiões, como se o desembarque fosse perigoso. Para a ONU, a imagem que isso passa é a de que a ajuda internacional não tem coragem de ir ao encontro das vítimas.



"Os americanos não estão no Haiti, mas agem com a presunção de que conhecem muito o país", diz um oficial brasileiro, que pede para não ser identificado. "Pedimos a eles, por exemplo, que não realizem operações humanitárias jogando comida de helicópteros porque isso só cria violência e estresse entre a população de desabrigados", completa.

Segundo ele, a maneira correta é organizar distribuições por terra com esquema de segurança, usando mulheres para distribuir os alimentos porque, no Haiti, a figura feminina é respeitada como símbolo materno.

Posando para a mídia


"A insistente tentativa das equipes dos EUA de funcionar como comando em todas as operações é extremamente desgastante. Poucas missões ocorrem sem bate-bocas. E o que é pior: em operações de resgate de sobreviventes, eles insistem em assumir na hora da retirada da pessoa, para que a mídia possa flagrar o momento", conta um militar do México.


Da parte do governo haitiano, se é que se pode dizer que há governo no Haiti,  a ordem dada foi a de que todo os seus diplomatas pelo mundo insistissem que o governo existe e não há conflito diante da presença militar americana. "Muita gente falou que o governo desapareceu. Não é verdade", afirmou o embaixador do Haiti na ONU, Jean Claude Pierre.

Sobre a bandeira americana que tremula no aeroporto da capital, Pierre tem uma explicação. "Isso foi um acordo entre nosso governo e os americanos. Não temos Exército e precisamos de soldados", disse.

Aeroporto Controlado

Além dessa presepada cinematográfica que os estadunidenses adoram, desde domingo (17), o representante dos Estados Unidos no Haiti, o ex-presidente Bill Clinton, ordenou que o aeroporto fosse evacuado, só permitindo a presença de militares e de funcionários estadunidenses. A justificativa foi a manutenção da ordem.


A prioridade no aeroporto, desde então, passou a ser o embarque dos estadunidenses que vivem no Haiti. Eles representam a maior comunidade estrangeira no país. São 45 mil pessoas, e grande parte delas quer deixar o país.

Quinta-feira (21), jornalistas e representantes de organizações de ajuda humanitária e equipes de salvamento que ocupavam uma ampla ala entre as pistas de aterrissagem e a sede provisória da Minustah foram desalojados, enquanto a fila de haitianos e de pessoas de outras nacionalidades que pretendiam sair do país dava várias voltas na entrada do aeroporto.

Louis Billy era um dos haitianos que estavam na fila à espera do embarque. O destino era o que parecia menos importar a ele. “Quero sair daqui, preciso trabalhar para sustentar a minha família, que agora é só esta menina aqui”, mostrava ele. Billy disse que sua mulher morreu no terremoto e que perdeu sua casa

“Quero ir, não importa para onde. Não há mais o que fazer no Haiti”, disse outra haitiana, Évise Evariste, que está desempregada.

Os dois, certamente, ainda estão em solo haitiano.
Quinta-feira (21), a polícia federal norte-americana só permitia o embarque de seus nacionais com passaporte. Uma haitiana com o visto de permanência nos Estados Unidos, o Green Card, não pôde nem entrar no aeroporto. Foi barrada pela polícia norte-americana já na entrada do Toussaint Louverture, nome que homenageia o líder negro herói da independência do país.

Apenas um voo comercial continua operando desde o aeroporto. É uma aeronave da American Airlines que mantém uma linha diária com Miami.

Eu particularmente, sou de opinião que em uma situação como a que vive o Haiti, qualquer ajuda é bem-vinda! Porém diante do histórico dos EUA com o Haiti e outras nações não posso deixar de sentir um arrepio diante das possibilidades.
Se somarmos a tudo isso a forma arrogante como os americanos vem agindo, sem respeito pelas autoridades já presentes no país, como a ONU e a Missão de Paz dirigida pelo Brasil, posso até errar, mas a Águia do Imperialismo Americano está vendo na possibilidade de ocupação do Haiti, razões que só Deus sabe!

                                Montagem com fotos de crianças do Iraque


Já assisti a este filme antes!




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4 comentários:

Christian Messias disse...

Posso publicar este material no meu blog, com os devidos créditos?

Roberto Medeiros (Beto Fera) disse...

Com toda a certeza parceiro!

Misael B. Silveira disse...

É meu caro, lendo o teu texto, e sabendo da situação do Haiti, só me resta pensar o sequinte: os EUA vão partir para o mercado da venda de escravos.

Qual o interesse comercial dos EUA lá?

Que riquezas o Haiti dispõe para os americanos explorarem??

Infelizmente, a ignorância e a bitolação midiática é um mal impregnado no Brasil.

Roberto Medeiros (Beto Fera) disse...

Misael, existem coisas tão importantes para um país como os EUA quanto o que você considera riqueza.
Controle, posição estratégica, credibilidade, papel na política mundial, poder militar, respeito, atitude e postura de líder, entre outros...
Obrigado pela participação.
Uma abraço,
Beto Fera

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