sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Armadura da depressão...

Armadura da depressão...

Imagine se você acordasse um dia preso em uma armadura de ferro.
Ela permite se movimentar...
Você pode observar o mundo a sua volta através de lentes opacas.
Dentro dessa armadura há espinhos que te machucam constantemente. Numa onda incessante de dor que lhe impede de manter a sensatez.
As dores são quase constantes, agudas. Raramente há um alívio e você quase esquece da armadura...
Mas ela está ali, te impedindo de viver o mundo a sua volta, de sentir o prazer do vento, o calor do sol, o toque de uma criança, o cheiro de uma flor, a alegria de uma festa...
A qualquer momento um espinho te atinge e vc esquece sonhos, abandona planos, fica com raiva de quem mais te ama, agride, anula a criatura boa que etá dentro daquela armadura e se torna uma besta encurralada, perigosa e sem escrúpulos!
E o tempo passa!
E Você acaba se acostumando com a armadura.
Não vive, sobrevive de migalhas de alegria, mergulhado até o pescoço na angustia, ansiedade, medo, ódio, insegurança, escuridão.
Um dia, após longos trinta anos dentro dessa armadura, vc se pergunta se todos vestem armaduras iguais a sua.
Todos terminam o que começam, planejam, sonham, acreditam, lutam, agem da forma que você deveria agir e não consegue. São tão normais, felizes, como conseguem com aquela dor da armadura?
E busca a verdade...
E buscando descobre que nem todos usam essa armadura.
E descobre que ela é uma doença...
Descobre que viveu mais de trinta anos da sua vida dentro de uma armadura, perdeu sua infância, adolescência, juventude, vendo e sentindo o mundo de forma errada
Você procura alguém que possa te ajudar a tirar essa armadura pois você não aguenta mais, teu sonho é morrer, deixar de existir, desaparecer da face da terra.
E você começa então a tentar arrancar essa armadura que de tanto ser usada já se entranhou em sua carne. O processo é doloroso, as vezes você chega a se perguntar se vale a pena...tem vontade desistir...mas a pessoa boa que vive nessa armadura é guerreira, não desiste e continua mesmo que toda sua alma esteja rija de dor e angustia.
Sete anos se passam e apesar de todas as ferramentas e esforço dos especialistas a armadura resiste, cada vez mais deformada e dolorida.
E Hoje você levanta arrastando a sua armadura e vai buscar mais uma vez a liberdade. Outro grande sábio resolveu te ajudar...ainda há esperança!

Esta é a minha história...
Vivo dentro dessa armadura chamada transtorno de personalidade...
Espero que tenham entendido o que acontece comigo através dessa metáfora...não posso perder tempo, tenho uma armadura a destruir e vou tentar mais uma vez!
Que Deus me ajude!
(Beto)
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3 comentários:

Laila Araujo disse...

Na verdade, com a armadura a gente apenas existe, porém, não vive.É difícil, dolorido, cansativo e, às vezes, até nos parece impossível, mas quando pensamos que não podemos mais aguentar, é que somos fortalecidos e, quando percebemos não há mais amardura. E digo com propriedade, pois vivi por muito tempo com uma armadura também (eu não disse que éramos mais parecidos do que o senhor supunha?!rs). E sempre vale a pena tentar, nunca é demais e, principalmente, nunca é tarde!

"Depois de um tempo você aprende que realmente que pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir mais longe, depois de pensar que não pode mais!"
TE AMO MUITO!!!

Luciana Vaz disse...

Beto: Esses dias um leitor do meu blog mandou um e-mail assim: Nossa! Vc tem síndrome do pânico, depressão e parece ser uma pessoa tão feliz! Respondi: Tenho tudo isso que vc disse, inclusive a felicidade. Eu conheço as sensações que vc descreveu na postagem, no entanto, são sensações e não propriamente os sentimentos. Assim como melancolia é diferente de depressão patológica, sensação é diferente de sentimento. Obviamente, essas sensações provocam certos sentimentos, porém, sensação não é a voz de comando. Quem comanda é vc, armado de seus mais nobres sentimentos. É claro que não conheço a cura, afinal de contas, tenho depressão e síndrome do pânico há anos. No meu caso, não houve um trauma que desencadeasse a coisa, a armadura é genética. Mas eu vivo bem porque não é a depressão que me tem. Sou eu que a tenho, logo, eu ainda sou dona de mim, apesar dos pesares. Existe uma falha químico cerebral, porém, meu coração, minha alma é feliz. Ocorre que algumas vezes eu fico exausta, etc... Mesmo quando não posso expressar a minha essência, mesmo quando a única alternativa é compreender que estou sofrendo a depressão, também compreendo que vou ficar contida apenas tempo suficiente para descansar - sem culpa - e retomar a minha liberdade custe o que custar em breve. Quando a "armadura" pesar muito, é normal precisar de um descanso, afinal de contas, carregar peso cansa mesmo. Mas Deus não dá uma cruz maior do que possamos carregar, meu amigo! Beijos, abraços, sucesso, felicidade e considere-me uma amiga.

OBS: Meu blog - fora do ar por uns dias para transferência de domínio.

Principe Encantado disse...

Muito bom seu texto amigo, vale a reflexão.
Abraços forte

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