quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PATRÍCIA ACCIOLI - breve reflexão e sentido desabafo



O COVARDE ASSASSINATO DA JUÍZA FLUMINENSE PATRÍCIA ACCIOLI (breve reflexão e sentido desabafo): 

Meus amigos reclamam que sou pouco patriota. Não é isso. 
Claro que eu gosto do Brasil, por mais que sinta verdadeira afinidade com a Itália, terra dos antepassados, até mesmo por conta da força do sangue. Ocorre que não sou inocente e, embora otimista, reconheço-me cético em relação as coisas da pátria. 
Um país que não demonstra profunda indignação com a morte de uma Juíza é um país que precisa rever urgentemente sua vocação à grandiosidade. 
Sim, uma Juíza, pelo simples fato de ser Juíza, não é melhor ou pior do que qualquer outra pessoa, em que pese a importância e a dignidade singulares da função exercida e do mérito para se conquistá-la. A vida de uma Juíza vale tanto quanto à de uma empregada doméstica, uma freira, uma médica, uma servente, etc. Mas, quando o crime atinge e de forma tão violenta, orientada, uma Juíza é sinal que as coisas caminham muito mal na sociedade. 
Se o Estado não consegue proteger quem está no topo da pirâmide, quem o corporifica numa de suas funções, quiçá o cidadão comum. Um Estado que não protege uma Juíza jamais conseguirá proteger uma empregada doméstica. 
Ora, se a vida de uma e de outra tem o mesmo e rigoroso peso, o mesmo não se pode dizer, evidentemente, das funções exercidas. Aquela tem um peso infinitamente maior que o desta, com todo e máximo respeito às empregadas domésticas de todo o Brasil. Seria hipocrisia não reconhecer isso (um breve aposto: da mesma forma, uma Juíza que não exerce com dignidade sua função sempre terá mais "culpa" aos olhos da sociedade e de Deus do que uma empregada doméstica igualmente incuriosa, pois é da sabedoria Bíblica que a quem é muito dado, muito também será pedido, claro!). E justamente no reconhecimento da importância invulgar da função de Magistrada é que se revela ainda mais danoso o crime contra a Juíza fluminense, pois ela deveria ser protegida de forma especial. 
Repito: como posso me sentir seguro se os juízes do meu país não são tutelados e protegidos? Se uma Magistrada não escapa dos atos concretos do crime organizado, como poderá escapar o cidadão comum? Não sou covarde e até tenho certo complexo de mártir, mas sei escolher as causas para entregar minha vida. Entrego-a sem pensar duas vezes para proteger minha fé, minha família e meus amigos mais íntimos. Mas jamais a entregarei para o meu país ou para defender algum bem cívico. Se eu tomar conhecimento de um crime, paciência, nunca o "denunciarei" às "autoridades competentes", pois se existe algo que aprendi é que no Brasil, salvo boa parte dos magistrados e promotores de justiça, além dos militares, o que não existe mesmo são "autoridades competentes", seja no sentido jurídico da expressão, seja no sentido vulgar. 
A incompetência é o signo que melhor exprime o Brasil oficial. Quando o país não peca pela inidoneidade, peca pela incapacidade. O princípio da eficiência foi agregado ao artigo 37 da Constituição, mas ainda é apenas uma estrela cintilante a edulcorar o céu e a constelação das teses jurídicas e só faz sucesso mesmo nas salas de aulas. 
Guardadas as devidas, necessárias e respeitosas proporções, sem de forma alguma diminuir a dor dos familiares da juíza, muito menos vulgarizar sua morte covarde (que espero não seja em vão), o terrível assassinato guarda íntima relação com as invasões aos quartéis das forças armadas para roubos de postos de assistência bancária e de equipamentos bélicos, pois exprimem em primeira e última análise o colapso inexorável do Estado. 
Brasil, país que ostenta a oitava economia do mundo, mas IDH inferior a de alguns países africanos, país que arrota possuir um dos povos mais dóceis e gentis do mundo, mas que tem os piores índices de violência urbana e criminalidade de todo o planeta, país que tem instituições democráticas razoavelmente sólidas, mas que vive enlameado em casos e casos de corrupção, país que parece um devaneio obsceno de uma noite torpe de verão. 
Pergunto: como posso sentir orgulho?
Não, amigos, não bato no peito e grito como um macaco adestrado de circo: "sabe, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". 
Minha pátria é minha família e meus amigos. Nenhuma bandeira é mais importante do que o sorriso de um amigo, especialmente a de um país com vocação ao burlesco. 
Juíza Accioli, como não fui capaz de exigir das autoridades um programa de segurança pública eficiente e capaz de proteger pessoas como você, que me protegiam e protegem, peço sinceras desculpas e ao menos garanto minhas orações, pois acredito que Vossa Excelência morreu como um mártir. 
Obrigado e perdão.

Dr Paulo Henrique Cremoneze

Share/Bookmark
Não serão publicados comentários anônimos, nem ofensivos! Se quiser comentar, mostre sua cara, seja educado e coerente!!